domingo, 5 de dezembro de 2010

A EXPLICAÇÃO DAS COISAS


Por vezes, o imprevisto e o inédito das coisas que nos acontecem, levam-nos a não termos ou não acharmos uma explicação. De outras vezes, porém, a explicação é tão óbvia e está tão perto de nós que não conseguimos vê-la. Só não há sobressaltos na recorrência das coisas.  


          HISTÓRIA DE UM PINTOR QUE QUERIA PINTAR GOTAS DE ÁGUA

Havia um pintor que queria pintar gotas de água. E pintava-as: de azul, de rosa, de verde, de vermelho... Mas logo as gotas de água se desfaziam em manchas de tinta. E o pintor ficava triste.
Muito triste, porque o que ele queria era pintar uma gota de água que se mantivesse em gota de água colorida. E bastava-lhe conseguir uma, uma só que fosse, para se sentir um pintor feliz.
Para tanto, pensou que com um mais fino e mais macio pincel, talvez conseguisse pintar uma gota de água. Teria que ser um pincel muito fino, muito macio…
De entre os muitos pincéis que tinha, acabou por achar um que era muito, muito delicado.
Molhou-o então na tinta e, cuidadosamente, aproximou-o de uma gota de água; porém, logo a gota se desfez numa mancha de tinta. Sim: a gota desfez-se numa mancha de tinta.
E o pintor ficou ainda mais triste e mais infeliz.
Mais uma vez tentou, e outra, e mais outra, muitas vezes, até que o pintor percebeu que as gotas de água engordam com a tinta, por pouca que seja, e rebentam.
São as gotas de água tão delicadas que não se deixam pintar! E gotas coloridas… Só se as imaginarmos! concluía o pintor.

                           In Histórias Exemplarmente Imperfeitas (textos inéditos)     
                                                                                        Fernando Hilário

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