sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ACABAR COM A DÍVIDA E SAIR DA CRISE

Brincando com as palavras e os significados delas, eu diria que uma dívida, quando é verdadeiramente soberana, não se paga. E não se paga, precisamente por ser tratar de uma dívida soberana.

Ou é soberana, ou não é!

Acontece, porém, que em Portugal e na Europa já nada é soberano, nem os países, nem as dívidas, nem os políticos, nem os sindicalistas, nem as pessoas...

Por cá, enquanto o Governo anda a esquadrinhar modos e maneiras para conseguirmos pagar a dívida soberana, a soberania do País vai indo por água abaixo.

Com ela, isto é, com a soberania a ir por água abaixo, vai o país e vão os portugueses – vão os anéis e os dedos…

É que quanto mais pagamos a dívida, maior é a crise; ao ponto da falência do país, das instituições, dos serviços e das pessoas, no presente, ser já uma realidade; ao ponto de não se vislumbrar como vai ser, no futuro, o futuro, mesmo que, entretanto, se consiga pagar a dívida do presente, no presente.

(…)

Na sua demanda obsessiva em desencantar os modos e as maneiras para pagarmos a dívida, o Governo, naquilo que considero um deslumbre só ao alcance de alguns (dos obviamente mais dotados), sugere a emigração. De imediato, a começar pelos professores e, depois, talvez por decreto exarado em brilhante Conselho de Ministros, extensiva a outros funcionários públicos. Por exemplo, do Ministério da Economia e das Finanças, para, quiçá, irem trabalhar para a Alemanha ou para a França… E que mobilidade seria! Que desempenho! Conseguem ver os nossos compatriotas ao balcão de uma repartição francesa ou alemã, a aviar cidadãos, em bicha, com papéis de burocracias locais na mão? Conseguem?

Não conseguem?!

(…)

É verdade que este Governo tem pensado muito (obsessivamente, desmesuradamente, diria até estupidamente…) sobre como pagar a dívida para sairmos da crise. Mas o Governo não pensa ou não sabe pensar como havemos de deixar de pagar a dívida para podermos sair da crise. Diria que esta dialética, mais do que um mero trocadilho, se traduz, em todo o caso, na frase popularucha “É muito areia para a minha camioneta”, frase que o Governo, obviamente, parafraseia e subscreve.

O Governo (não é inédito o que vou dizer) é um aluno obcecado em agradar aos mestres e mesmo àqueles que exercem apenas a função de prefeitos; bajulador, beija-mão, etc. Aluno que não levanta a cabeça, que a mantém baixa, que a mantém cabisbaixa, que mantém o olhar a olhar por baixo; daí que este aluno não é ave que aprenda ou que saiba voar sozinha, a voar alto, a voar soberanamente.

Por isso (também não é totalmente inédito o que vou dizer), eu proponho a emigração compulsiva, espécie de deportação, de degredo para este Governo. E sugiro, por exemplo, que o Ministro José Relvas vá recitar versos do Guerra Junqueiro e do Dantas para o Metro de Paris. Acho que ia sair-se bem. E sugiro, por exemplo, que o Ministro Vítor Gaspar, que se exprime muito claramente e muito pausadamente, vá ensinar a tabuada para uma escola básica do interior da Alemanha, de preferência da antiga Alemanha de Leste. E sugiro, por exemplo, que o Primeiro Ministro Passos Coelho vá para África, por hipótese meramente académica, para a Guiné-Bissau, para cumprir a sua deriva de ser ainda mais africano. (Podia sugerir mais, mas fico-me por aqui.)

Talvez assim pudéssemos acabar com a dívida e a crise soberanas.

Vilar do Monte, 30 de dezembro de 2011

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