domingo, 10 de abril de 2011

ÀS VEZES, MAIS VALE O SILÊNCIO

Não se deve a nenhuma razão especial o silêncio que se fez durante as duas ou três últimas semanas, aqui, neste blogue. Às vezes, a indecisão chega à escrita, uma indecisão sobre o que escrever e como escrever. Também uma indecisão sobre o interesse ou a oportunidade daquilo que se vai escrever. E, no tempo da indecisão, o tempo, implacável, escoa-se e leva consigo os ensejos da escrita.
Nestas últimas semanas, o desejo foi escrever sobre as crises, económica, política e social, que se instalaram avassaladoramente entre nós. Se o fizesse, teria sido mais uma voz a juntar-se às muitas que trouxeram a público o seu ponto de vista. A abordagem verbal da crise foi intensa (está a ser e, certamente, será). Porventura, excessivamente intensa, criando uma espécie de inflação de enunciados, um caudal verbal mais ruidoso do que inteligível, sobretudo para quem se ache no papel de receptor/descodificador. E esta condição, é bom que se diga, é a da grande maioria dos portugueses, os quais, por força de várias circunstâncias, ouvem mais, muito mais, do que falam e, quando falam, não têm microfones nem páginas de opinião… 
A crise trouxe à ribalta algumas vozes que andavam como que caladas, mas que, sabe-se, são vozes que sempre espreitam a oportunidade para aparecer, para se fazer ouvir, não por um compromisso com a verdade, mas pela vaidade do sensacionismo que criam, ou que julgam que criam, e com o fito de subirem uns pontos na tabela dos fazedores de opinião.
A crise dá aos políticos o ensejo de mostrarem o que valem em matéria de retórica e de oratória, habilidades que todos nós já há muito lhes reconhecemos como as únicas que têm. Mesmo assim, eles pegam na crise, usam-na e aprimoram-se mais, muito mais.
Inflamados têm sido os discursos, da esquerda à direita, carregados de emoção e metáfora, supostamente em prol da verdade dos pontos de vista que defendem. Mas, reza a história dos últimos quase quarenta anos, esse empolamento é o do discurso mentiroso, do discurso da mera circunstância, do discurso do político para político, do partido para partido, e não o discurso que possa interessar ao país e aos portugueses que pagam a crise em que os palavrosos os meteram.
A crise não é só austeridade, é também abundância, e serve de alimento aos abutres que aparecem e andam à volta dela, a debicá-la.
                                                                                                                      Fernando Hilário

2 comentários:

  1. ás vezes é pena ... o silêncio.

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  2. "As pedras são professores mudos e que emudecem o observador. E o melhor do que o homem aprende com elas não é para ser partilhado."

    Portanto sim, às vezes mais vale o silêncio.

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