E, adiante, mudemos de assunto.
“Não batam mais no ceguinho”, bem podia ser o título do filme português da atualidade, tendo como personagens protagonistas o País e o Governo. O guião é assaz simples, ainda que comovente: de um lado está o Governo e os seus simpatizantes, na obsessiva deriva, que uns identificam de bom aluno ou de tipo honrado e cumpridor, outros de teimosia de jumento, em querer pagar a dívida, e, do outro lado, o País inteiro a reclamar os danos que a empreitada, chamemos-lhe assim, provoca.
Eu gostaria de acreditar nos desígnios humanos, patrióticos e históricos com que o Governo parece tomar a peito a boa governação do País e que esse, tal como apregoam, é o caminho. Gostaria, mas não posso, pois basta-me ver a miséria humana em que se encontram as inúmeras famílias portuguesas para perceber que esse não é seguramente o caminho… E essa não será, então, a política inteligente… e humana.
Nesta demanda, dir-se-ia esquizofrénica, do querer pagar a dívida a qualquer preço, os políticos no Governo têm descaracterizado o País pelo empobrecimento e delapidação das estruturas e das instituições sociais, culturais e científicas. Os próprios modelos conceptuais de ensino, saúde, justiça, prestação de serviços sociais e da organização e administração territorial têm sido alterados ao arbítrio do Governo e da maioria parlamentar que o sustenta, sem que, efetivamente, haja um indispensável contraditório que aconselhe ou desaconselhe as medidas tomadas. E isto pode parecer, mas não é um quadro de ficção: é a mais triste e condoída realidade (…)
As crises são, sempre, em último caso e para efeitos objetivos, da responsabilidade dos governantes e não dos governados. A estes últimos, e não a todos, caberá apenas, quando muito, uma responsabilidade moral.
O sacrifício que se está a pedir aos portugueses, que os políticos transformaram em vítimas da crise que criaram, é tremendo: faz da sua existência um horrível e hediondo sofrimento, e deixará marcas indeléveis nas suas vidas.
Para além disso, parece-me um sacrifício a todos os títulos inglório. Para os atuais governantes, o país reduz-se à dimensão de um porquinho mealheiro que se engorda à custa da miséria das pessoas, sobretudo das mais carenciadas, ao mesmo tempo que a casa coletiva – Portugal, entenda-se – se arruína também.
Mas era bom que eu me enganasse.
Fernando
Hilário
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